O problema de romantizar o autismo
Você já ouviu dizer que autismo não é defeito, é só uma forma diferente de ser? Pois é, essa frase rende curtidas nas redes sociais, mas pode ser a maior mentira já contada a quem realmente sofre com isso.
Nos últimos anos o termo neurodiversidade ganhou espaço como bandeira política e cultural. A ideia central é simples: cérebros diferentes não são defeituosos, apenas funcionam de outra maneira. O slogan parece bonito e até libertador, mas quando olhamos mais de perto ele esconde uma armadilha.
Quem vive na pele as dores de um cérebro que não se adapta ao mundo sabe que não se trata apenas de diferença. Trata-se de deficiência. O autista que sofre em silêncio porque não consegue lidar com ruídos, interações sociais e imprevisibilidade não precisa ouvir que tem “apenas uma forma distinta de funcionar”. Precisa de suporte real.
Pense em alguém que perdeu uma perna. Ninguém diz que andar se arrastando é apenas um jeito alternativo de andar que deve ser respeitado. Todos entendem que se trata de uma deficiência objetiva e que a pessoa precisa de uma prótese para recuperar qualidade de vida. Por que seria diferente no caso de alterações neurológicas?
A comparação pode soar dura, mas é mais honesta. Alterações sinápticas que impedem a pessoa de se comunicar, trabalhar, conviver ou simplesmente viver em paz não são só diferenças. São falhas adaptativas que exigem recursos, adaptações, terapias, medicamentos. Negar isso em nome de uma narrativa otimista é cruel, porque minimiza o sofrimento real.
O discurso que diz “não há nada de errado com você” soa bonito em cartaz de campanha, mas pode virar prisão. O indivíduo continua sofrendo e ainda se sente culpado por admitir que sofre. A sociedade, por sua vez, não se move para oferecer adaptações, porque foi convencida de que não existe deficiência, só diversidade.
A postura ética é outra. Admitir que existe uma falha. Reconhecer que ela causa dor. Oferecer meios para que a pessoa funcione melhor no mundo. Isso não diminui ninguém. Usar uma prótese não tira a dignidade de quem perdeu uma perna. Tomar remédio para depressão não reduz o valor de quem luta para seguir vivendo. Da mesma forma, aceitar que o autismo e outras condições são deficiências não torna ninguém menos humano.
O respeito não nasce da negação da realidade. Nasce da honestidade de reconhecer limitações e do compromisso de criar caminhos para superá-las. Quem realmente se importa com o neurodivergente não precisa dourar a pílula. Precisa encarar a verdade e agir para aliviar o peso que a vida já coloca sobre seus ombros.
- Dario Malthan
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